Já ouviu falar de “transtorno de déficit de natureza” ? É assim que o pesquisador norte-americano Richard Louv define o que muitas crianças de hoje em dia estão vivendo, confinadas em micro-apartamentos e com pouco tempo dedicado ao brincar livre.
A teoria aparece no livro “A Última Criança na Natureza”, que já vendeu mais de 500 mil edições nos Estados Unidos, e ressalta que muitos problemas comuns de aprendizagem, como dificuldade de concentração, hiperatividade e déficit de atenção, estão diretamente ligados ao pouco tempo que os pequenos passam ao ar livre, em contato com a natureza. Isso sem falar dos problemas mais graves, como obesidade infantil.
O autor, em entrevista ao site Carta Educação, ressaltou a urgência de reconectar crianças e adultos ao mundo natural para uma vida mais saudável e aprendizagens mais significativas. “As pesquisas sugerem fortemente que o tempo passado em meio à natureza pode ajudar as crianças a aprender a ter confiança em si mesmas, acalmá-las e ajudá-las a se concentrar”, disse.
Pensando nisso, o Catraquinha preparou uma lista com dicas de leituras para estimular nas crianças o gosto pelo brincar livre e a relação com o mundo natural, longe dos jogos eletrônicos, computador e tablet.
Terra de Cabinha
Créditos: Divulgação-Editora Peirópolis
Terra de Cabinha: reinventar a infância a partir da relação com a natureza
Recém-lançado pela editora Peirópolis, o livro da jornalista e pesquisadora Gabriela Romeu, traz um inventário das infâncias do sertão do Cariri cearense. Ele mostra como os meninos de lá brincam com muitos recursos, soltos na imaginação e na brincadeira livre. E ainda traz uma série de ideias de brincadeiras típicas da região, apresentadas pelas próprias crianças que participaram da confecção do livro. O menino Jacaré, por exemplo, mora na Vila Lobo e brinca de “Estrelinha nova sela”, “Unha de gavião” e “Amassa tomate”. O livro conta o que é uma por uma e ensina como brincar. O projeto gráfico é um deleite à parte, com fotos de Samuel Macedo e ilustrações de Sandra Jávera. Dá vontade de sair brincando por aí.
Reinações de Narizinho
Créditos: Divulgação
Como não querer brincar na natureza depois de conhecer o Sítio do Picapau amarelo?
Que é um clássico de Monteiro Lobato, quase todo mundo, mas nem sempre paramos pra pensar no quanto essa narrativa cheia de aventuras ao ar livre estimula o livre brincar. O escritor traz elementos conhecidos pelas crianças – paisagem, vegetação, animais e folclore – para recriar um mundo que só pode existir na imaginação. Sensorial e descritivo, é um livro para estimular os pequenos a viver um pouquinho mais parecido com os heróis da história, Pedrinho, Narizinho e a boneca falante Emilia, em meio às jabuticabas e formigas-ruivas do sítio do Picapau Amarelo.
Papai esteve na floresta
“Um dia, papai me contou que tinha estado em uma floresta que é mãe de todas as florestas, com árvores tão altas e grossas que para abraçar uma precisaríamos juntar todas as crianças da classe e, ainda assim, não conseguiríamos”. Quem narra essa história é o menino Theo, impressionado pelas aventuras do pai, que se embrenhou na floresta amazônica equatoriana para estudar uma ave muito rara chamada harpia. Assim, ele conhece pela imaginação as histórias de aranhas gigante, rãs cantoras e vagalumes, e entende que a floresta é a casa de milhares de seres vivos que, como ela, morrem e renascem. Uma lição sobre respeito à natureza e humildade diante do desconhecido. O livro é dedicado a todas as crianças da comunidade amazônica de Záparo, onde o pai do menino e autor do livro, esteve em 2001 para contar essa história.
Uma história guarani
Para os índios guarani, a aranha é o animal mais sagrado do mundo. Tanto é que, quando um bebê nasce, a mãe o protege dos insetos com uma delicada teia de aranha, que, segundo a sua crença, podem curar até feridas. Este livro, publicado pela Edições SM, conta a história de um jovem guarani que resolve sair em busca do precioso fio para presentear a namorada, mas se depara com os mistérios implacáveis da floresta. Com texto e ilustrações da autora uruguaia Alicia Baladan, é uma história mitológica e repleta de simbologias e metáforas no texto e na imagem. Belíssimo do ponto de vista gráfico, o livro faz pensar sobre a insignificância do ser humano diante da natureza.
Dia de Sol
Créditos: Divulgação-Editora Jujuba
Um dia, o sol resolve sair pra brincar. Para encantar os pequenos sobre os ciclos da vida.
Do escritor e ilustrador Renato Moriconi, o livro, publicado pela editora Jujuba, faz uma narrativa visual sobre os ciclos naturais que recomeçam a cada dia. Um sol que aparece e desaparece. Esconde-se nas flores, equilibra-se na linha do horizonte, brinca de pega-pega, e depois vai dormir. A partir dessa história que pode ser a narrativa perfeita do cotidiano de todos nós, o livro estimula nos pequenos a noção de que tudo é processo, percurso e tempo de espera. E, quando as coisas escurecem, é preciso ter paciência até o próximo amanhecer.
Antes Depois
Créditos: Divulgação
Livro só de imagens, “Antes Depois” faz uma narrativa metafórica sobre a transformação.
Livros que são verdadeiras obras de arte: este é certamente um deles. Publicado em 2015 pela WMF Martins Fontes, este livro apresenta para a criança os ciclos da natureza, onde o tempo de cada coisa interfere nas estações do ano, no brotar de um fruto e até na cor de uma flor. Com páginas duplas onde a primeira representa o “Antes” e a segunda o “Depois”, tem noite que vira dia, semente que vira árvore, a abóbora que vira carruagem. Um livro que, com algo tão simples quanto mostrar uma geleira logo depois de uma floresta, faz pensar em ancestralidade e estimula nas crianças o respeito pelos ciclos naturais.
Onde vivem os monstros
Créditos: Divulgação
Considerado um clássico infantil, “Onde vivem os monstros” tem também uma versão no cinema, com direção de Spike Jonze.
O clássico infantil de Maurice Sendak atravessa os tempos sem se restringir a uma faixa etária pré-determinada, encantando crianças e adultos na mesma proporção. A história de Max, que foge de casa depois de se desentender com sua mãe, se tornou uma metáfora do reencontro com o selvagem e a vida que existe para além dos limites do nosso quarto. Publicado no Brasil pela Cosac Naify, “Onde vivem os monstros” é uma ode ao natural, tanto no mundo externo quanto dentro de nós, já que sempre podemos libertar nossos monstros e enfrentar nossas próprias florestas misteriosas.
Fonte: Catraca Livre
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